Rumo à França parte 3 da trilogia - em Paris também fazem puxadinho, não é só nóis não! Vocês vêem nesta foto, a entrada para as escadarias do inferninho, não é o metrô! Ao chegar no Hostel Caulaicourt Square, o atendente até que foi solícito, ao menos falava inglês ou algo muito parecido. Paguei a estada e, então, ele me disse que ajudaria a levar as malas, porque eu não agüentaria. Mal sabia ele o peso daquilo. O francês quase se cagou.
Ao descer aquele monte de escadas, e passar por corredores muito, muito estreitos, desconfiei que bairro de boêmios e artistas era uma boa desculpa para uma casa de tolerância!
Desci três lances de escada, quase morta, afinal viajara por 5 dias sem parar, que puteiro que nada. Tentei pensar em como era bacana estar num corredor sem iluminação direta, na emoção de tudo pegar fogo e não ter por onde sair, na quantidade de gente que roncava naquelas portinhas ou não..., no papel de parede mais brega que eu já vi na vida, no bafo que emanava pelo corredor...
Até que chegamos, ao terceiro subsolo, último quarto.
Caralho, não podia ficar pior.
Uma entrada minúscula! Minha mala não cabia ao lado do aquecedor. Nessa espécie de antesala, havia um chuveiro, um cubículo, com uma cortininha de banheiro daquelas transparentes e duas portas. Uma era a do reservado, outro cubículo com vaso sanitário. A outra porta abria para o dormitório. Pasmem! Um pequenino dormitório com 3 beliches, ou seja, cabiam 6 pessoas ali. Sim, eu era a sexta, havia três homens e três mulheres.
O que fazer? Chorar? Depois de ter pagado muito mais barato nos albergues oficiais da Alemanha, com chuveiro reservado, quartos para no máximo 4 pessoas, com sexos separados...
Eu tinha vontade de cuspir na PORRA da França.
Mas não tinha forças, estava no fim delas.
Tomei um banho com cortininha transparente e tudo. Afinal, o que mais podia acontecer?
Fui para a “cama”. Um beliche fedorento, com cara de que aquela “roupa”de cama não era trocada há décadas... Uma inglesa chegou e apontou que eu deveria assumir o posto no beliche superior. Justo eu que nunca consigo subir, sempre negocio a parte de baixo, tenho medo de amassar alguém!
Pensei: Puta, você vai ver só, se eu cair em cima de você não reclama!
Me agarrei no beliche e subi como se escalasse um cavalo. Se vocês, tanto quanto eu, não sabem subir num cavalo, sabem quando agarramos o bicho, jogamos uma perna e jogamos a outra ?
Voilá: estava na minha cama às 2h da manhã em Paris, cidade luz, só se for de Lúcifer, pensei.
Por volta de 6h da manhã, sem conseguir dormir direito, somente dando alguns cochilos, eu pensava sobre o fato de que Paris deveria valer todo aquele martírio, quando um cara enorme aparece pelado na penumbra do quarto.
Era só o que faltava! Olhei para o outro lado, depois pensei bem e hummm, por que não olhar? Afinal, não era nada mal... Era alemão, descobri depois. Só podia ser, eles adoram ficar pelados em qualquer situação, até em parques públicos!
Acordei, fui conhecer Paris, encontrei a Flávia e sua tia, tomei um banho no cubículo delas, ao menos era privativo.
Paris é bonita, mas ao atravessar aquele metrô fétido, só pensava no retorno ao meu lar de beliches...
A gota d’água caiu quando na terceira noite, cheguei no puteiro e a única mulher do quarto era eu. Todas as outras já tinham ido embora.
Sentei-me na cama (agora inferior), olhei aqueles 5 homens assistindo à micro TV e pensei: Fodeu, mesmo.
E agora? Durmo aqui? Vou realmente dormir?
Conversei um pouco com o japonês, vi que era boa gente, mas segundo a minha experiência, não era garantia de nada. Pensei, respirei fundo e resolvi encarar.
Não dormi nada, passei a noite, de novo, tirando cochilos e assistindo o australiano mal encarado se masturbar na penumbra. Pode? Participei de um filminho pornô sem querer... Torci para que o alemão grandalhão acordasse e desse uns tapas nele, mas todos só roncavam, era a nona de Beethoven!
No outro dia de manhã, fui à recepção e então os gentis franceses conheceram minha fúria.
Lembro de ter falado entre os dentes que se algo acontecesse comigo, eu os mataria.
O francês se justificou, se fez um pouco de difícil, e me disse que poderia disponibilizar um quarto noutra ala (a da reforma, acima do nível do solo!). Passei a noite num quarto com uma cama de casal, TV, banheiro e chuveiro privativos e com direito a cheiro de tinta fresca.
Ah, Paris...
Quando embarquei no trem para a Holanda, não me ficou um pinguinho de saudade de Paris, volto lá apenas quando tiver dinheiro para um hotel não para um puteiro!
kkkkkkkk!!!!
Eu também só volto a Paris com muita, mas muita grana!!! Mas tenho saudade sim, porque pra mim é uma das cidades mais lindas que já conheci, emocionante, de chorar.
Eu nem sabia que vc tinha conseguido sair do terceiro subsolo.
Gente, cheguei lá no puteiro no dia seguinte, levei um calote do taxista q passeou comigo por toda Paris. Minha tia tinha ido embora e só me restou fazer companhia a minha amiga Lu. Mas para a minha felicidade e tristeza da Lu, fiquei no 3º andar de cima, num quarto já reformado, com 4 pessoas, um era brasileiro e eu já me senti mais segura pois tínhamos conversado lá no hall de entrada, tinha uma garota e um ingles q só dormia. Mas o melhor mesmo foi que neste quarto havia banheiro privativo, com um chuveiro super quentinho e forte, tudo para aliviar meu stress.
Claro, se perde a amiga mas não a piada. Desci e falei pra Lu:
Entendi, lá em baixo é o lugar das novatas... hahahahaha
Como disse a Lu: Tá no inferno abraça o capeta...
Mas vou te contar, esses nossos dias em Paris foram bons, porém sofridos...
bjs